O que aconteceu com a Fórmula 1 e o seu espírito?

O que aconteceu com a Fórmula 1 e o seu espírito?

Possivelmente a melhor prova de que podemos encontrar desta perda de interesse nesta competição são as audiências televisivas. Já sabemos que em Espanha o público subiu como louco por causa do segundo campeonato do Fernando Alonso.

E aposto que haverá fãs que pensam que esta perda de interesse só ocorre no nosso país, devido à situação profissional que vivem os dois pilotos espanhóis que actualmente competem nesta categoria: por um lado temos um Fernando Alonso que mostra corrida após corrida que ainda é um dos melhores pilotos da grelha actual, mas que compete pesado por um McLaren-Honda sem velocidade e fiabilidade e, por outro, um Carlos Sainz que dá flashes de qualidade e talento mas cujo Toro Rosso não está ao mesmo nível.


Outro aspecto que tem um grande peso no público espanhol é o desaparecimento das transmissões gratuitas desde a compra exclusiva dos direitos pela Movistar. Desde esta temporada, os fãs são obrigados a contratar uma TV paga, assistir ao Grande Prêmio em cafés e bares ou recorrer a métodos de legalidade duvidosa.

Você pode pensar que a perda de interesse é apenas na Espanha, mas a queda do público está ocorrendo globalmente.

E a nível mundial? Qual é a situação? Surpreendentemente, a situação em Espanha pode ser extrapolada para o resto do globo, pois de acordo com o portal britânico F1Fanatic, a F1 perdeu um terço do seu público desde 2008. Assim, passou de 600 milhões de espectadores durante esse ano para cerca de 400 milhões na temporada de 2016. Qual é a razão para esse nariz a nível mundial?


Vamos voltar 11 anos atrás... Naquela época, os fãs desfrutavam da F1 com motores V10 ineficientes e ruidosos de 3 litros naturalmente aspirados, e os construtores já estavam trabalhando contra o relógio para preparar os novos V8s para a temporada 2006. Os pneus montados nos automóveis foram fornecidos por dois fabricantes diferentes - Bridgestone e Michelin - com diferentes níveis de dureza composta e diferentes características que beneficiaram ou prejudicaram as equipas em função das condições climatéricas e do alcatrão. As paragens nas boxes foram longas, muito mais longas do que as actuais, principalmente devido ao reabastecimento que teve lugar durante o Grande Prémio. Lembra-se de tudo isto? Parece que foi ontem, mas já se passaram alguns anos.

Atualmente, em 2016, temos um V6 turboalimentado 1.6 com um sistema híbrido que torna os carros mais rápidos, sem negligenciar a eficiência energética. Mas para o ventilador, a F1 hoje se move na mesma velocidade de 5, 10 ou 15 anos atrás. As diferenças são quase imperceptíveis, exceto por dados como os tempos de volta, porque mesmo as velocidades máximas são semelhantes. No entanto, há um factor que muda significativamente a percepção do Grande Prémio a partir do exterior, que é o som. A F1 passou dos V10s afiados, girando a quase 20.000 RPM, para os V8s com um som que tinha pouco a enviar aos seus antecessores para acabar com os V6s híbridos, o que deixa muito a desejar em termos de som. Prova disso é que a FIA introduziu medidas desesperadas que procuram aumentar o nível de decibéis dos monolugares, chegando a testar algumas pontas de escape em forma de trombeta, sem muito sucesso.


A introdução dos motores híbridos V6 não melhorou uma situação que já está a tornar-se preocupante.

Por outro lado, os monolugares funcionam com pneus Pirelli que, apesar de terem compostos diferentes no papel, na prática têm praticamente a mesma duração, com algumas unidades completando 30 ou 40 voltas em um pneu macio que há 10 anos atrás poderia ter sido um pneu qualificador.

Outro factor que contribui para a perda de interesse são as paragens nas boxes. Há alguns anos, os pit stops na Fórmula 1 têm sido ultra-rápidos, sendo suficientes entre 2 a 2,5 segundos para mudar as quatro rodas do carro, deixando as equipas com pouco espaço para erros. O reabastecimento, proibido desde 2008, tem significado que os pilotos estão mais preocupados com o consumo de combustível e conservação mecânica do que com os tempos de volta e velocidade, a essência das corridas e da primitiva F1.

Não esqueçamos a perda progressiva da importância do condutor numa Fórmula 1 cada vez mais tecnológica. Se olharmos para a grelha de partida do último Grande Prémio vemos que temos os dois Mercedes à frente, seguidos pelos dois Red Bulls, os dois Ferraris, os dois Williams... Não há praticamente diferenças entre os dois pilotos da mesma equipa, mas as diferenças entre carros podem ser medidas em segundos. Este ano, como em 2015, o peixe já está vendido.

Só precisamos de saber se é Rosberg ou Hamilton quem vai ganhar a corrida. Nada a ver com as temporadas de 2006, 2007 e 2008. No auge do V8, o campeonato mundial foi decidido na última corrida, muitas vezes entre pilotos de equipes diferentes. Quem não se lembra do GP Brasil 2007? McLaren chegou com uma grande luta interna pelo campeonato mundial entre Alonso e Hamilton, até que, finalmente, Raikkonen toma o título com uma margem de apenas... um ponto!


O excesso de zelo para a segurança do condutor em determinadas condições meteorológicas torna os GGPPs previsíveis e sem surpresas.

Um dos aspectos que também contribuem para esta perda de espectacularidade e interesse é o aumento da segurança no Grande Prémio. Sim, o excesso de zelo na proteção dos cavaleiros está reduzindo o espetáculo, fato que pode ser compreendido com um simples exemplo: até não muito tempo atrás, o Grand Prix podia ser realizado no molhado, mesmo com chuvas fortes chovendo nos circuitos.

Hoje em dia, no entanto, os GGPPs são atrasados em caso de chuva, com as partidas a serem feitas atrás de um Safety Car que permanece na pista até secar, como no caso do embaraçoso espectáculo do Grande Prémio Britânico desta época, quando o Safety Car se retirou após as primeiras cinco voltas de um GP que poderia ter sido feito com pneus intermédios. Isto minimiza o potencial de surpresas em corridas molhadas, com os corredores habituais a ocuparem os primeiros lugares. Porquê investir recursos no desenvolvimento de pneus de chuva extrema se os carros de Fórmula 1 nunca correm nestas condições?

Seja como for, apesar da queda do público, da superioridade de um time e das contínuas críticas da mídia, torcedores, equipes e até pilotos, a F1 ainda está sob a tutela da FOM e da FIA, esperando que com a mudança de regulamentação na próxima temporada a tendência dos últimos anos seja revertida. Pneus mais largos, asas mais baixas e largas... Todos os fãs esperam ansiosamente que estas mudanças tenham efeito e que pouco a pouco a Fórmula 1 regresse ao lugar de onde nunca deveria ter saído, a primeira classe do automobilismo.

E tu, o que achas?

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